Texto escrito por Marco Aurélio Ferreira Vianna
Falta de motivação é algo passageiro ou é um sintoma de que a relação com a empresa acabou?
É realmente impressionante como o tema motivação vem ocupando a lista de prioridades contidas na cabeça dos atores da comunidade empresarial brasileira. Quanto mais me questiono sobre esta constatação, mais concluo que este período de crise, ambigüidade e caos tem se constituído em uma verdadeira overdose maligna de desafios que levam as pessoas a estruturar em suas mentes um sentimento de incapacidade e até mesmo de impotência. Dentro do modelo Lawler de motivação, percebe-se que quando uma pessoa acha ou sente que seu esforço não se transformará em performance ou, pior ainda, percebe que sua performance não acarretará resultados positivos, seu impulso motivacional cai para níveis próximos a zero.
Na minha atividade de palestrante, tomo, particularmente, sérios cuidados para não pintar um quadro extremamente negro do futuro (até porque não é), sempre procurando mostrar aos ouvintes os focos de oportunidade do mundo em mudanças. Até mesmo porque já presenciei palestras com conferencistas do tipo "cassandras do pessimismo", em que inúmeros ouvintes saíram do evento com o nível de energia no chinelo, sem a menor vontade de levantar um dedo.
Por isto mesmo, no meu ponto de vista, a falta de motivação no momento atual pode estar sendo gerada por este estado incerto das coisas. É claro que as organizações podem (e até devem) reagir para diminuir este efeitos negativos, criando programas de informação e reerguimento da moral do seu pessoal. De novo, antenando sua gente para as oportunidades.
De outro lado, é importante comentar que a definição "ninguém motiva ninguém" é aceita de forma quase unânime. Tomada ao pé da letra (sempre com muita reserva), esta assertiva sinaliza que a empresa não teria responsabilidade sobre a motivação de seus Seres Humanos; no entanto, é preciso ter-se consciência que as pessoas naturalmente têm momentos difíceis, conseqüência de sua própria evolução.
Os chineses chegam a afirmar que as mulheres têm ao longo da vida oito crises de crescimento, enquanto que os homens têm sete (não me perguntem o porquê da diferença). Assim, muitas vezes, períodos maiores ou menores de desmotivação podem ser conseqüência de fatos individuais isolados - ou porque se entrou nos quarenta anos, ou por questionamentos em relação à vida, ou porque se teve uma grande perda, ou porque simplesmente estamos crescendo. O fato é que todos nós temos nossos altos e baixos que não precisam ser classificados tecnicamente como doenças na categoria PMD (Psicótico Maníaco Depressivo ou Transtorno Bipolar, como chama a moderna medicina).
Períodos de instabilidade fazem parte da vida e a empresa deve ter mecanismos de entendimento sobre esse transtorno natural do ser humano. Como sistema mais forte deve oferecer apoio e atenção.
Em último lugar, cabe comentar que a falta de motivação pode sim, ser conseqüência de uma situação específica da empresa. Ou porque ela mudou ou porque a pessoa mudou, o fato é que não necessariamente um entendimento da época E se repete ao longo das demais subsequentes. Nestes casos, acho difícil que seja promovido um efetivo revival, bom para ambas as partes. Normalmente os cristais se quebraram e uma reconstrução será sempre insuficiente. É claro que em casos de mudanças estratégicas organizacionais mais profundas, pessoas antes desmotivadas muitas vezes conseguem dar a volta por cima diante da expectativa e da realidade de um novo direcionamento que se impõe na empresa.
No fundo voltamos à velha formula de que motivação = motivo para ação, considerando que cada vez mais, estes motivos estarão ligados a desafios viáveis capazes de se transformar em resultados efetivos que produzam alguma forma concreta de atratividade pessoal.
As pessoas, em seu cotidiano, acabam usando como modelo mental orientador de sua automotivação a brilhante reflexão de Richard Bach:
"Eu dei a minha vida para me tornar a pessoa que sou neste momento." Valeu a pena?